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sábado, maio 27, 2006

ELOGIO À LOUCURA - Parte 08 - Notas - Erasmo de Rotterdam

NOTAS

(1) – Quae Pallas isthue tibi misit in mentem. Homero introduz Palas, que vai sugerindo, a Penélope e a Ulisses, ora uma coisa, ora outra.

(2) – Loucura, em grego.

(3) – Ao subir ao cadafalso, onde devia perder a cabeça em testemunho da Verdade, Tomas More, com o mesmo ânimo intrépido e tranqüilo, não podendo dar um passo por causa da gota, disse a um dos guardas, com aquele seu mesmo estilo de bonomia: “Amigo, ajuda-me a subir, que ao descer não te darei mais incômodo”.

(4) – Criada por Susarião de Mégara. Tão desabusada que citava os nomes das pessoas, sem que a lei o proibisse. À antiga comédia sucedeu a sátira entre os latinos.

(5) – Luciano, retórico samosatense, autor do Diálogo dos Mortos. Tão satírico que não perdoava aos próprios deuses. Foi por isso considerado ímpio e ateu.

(6) – Equitare in arundine longa. (Horácio).

(7) – Alter rixatur de lana soepe caprina. (Horácio).

(8) – Erva cujo suco, misturado com vinho, desperta a alegria.

(9) – Trofônio, filho de Apolo, segundo a lenda, era um célebre arquiteto grego. Construiu em Lebadia, na Beócia, um templo consagrado a Apolo, no centro do qual havia uma caverna onde se acreditava que um demônio interpretasse os oráculos. Como os que aí entravam para consultá-lo saíssem desfigurados, surgiu o provérbio segundo o qual uma pessoa muito triste parece ter saído do antro ou da caverna de Trofônio.

(10) – Midas, famoso rei da Frígia. Escolhido juiz para decidir quem cantava melhor, Pã ou Apolo, julgou em favor do primeiro. Apolo, irritado, colocou-lhe duas orelhas de burro na testa.

(11) – Antigamente, assim se chamavam os filósofos e os que professavam a verdadeira sabedoria. Em seguida, os retóricos também tiveram esse nome.

(12) – Busiris, rei do Egito, filho de Neteno e de Líbia. Segundo a lenda, foi morto por Hércules, por sacrificar os forasteiros e usar para com eles de grande crueldade.

(13) – Falaris, famoso tirano de Agrigento, na Sicília. Entre as suas crueldades inauditas, distingue-se a de ter mandado Perilo fazer um touro de cobre para dentro dele queimar vivos os que condenava à morte.

(14) – Tales, um dos sete sábios da Grécia.

(15) – Diz Plínio que a língua da sanguessuga é bifurcada.

(16) – Com o auxílio das musas, porque o que se segue é uma ficção poética.

(17) – Hesíodo, na sua Teogonia, faz derivar do Caos e do Orco, como deuses mais antigos, todas as outras divindades.

(NE) – Japeto, um dos Titãs, filho de Urano e de Géia, irmão de Cronos, pai de Prometeu, Atlas, Epimeteu e Véspero. Considerado como antepassado da raça grega e também de todos os homens.

(18) – A teologia pagã admitia doze divindades primárias, superiores a todas as outras.

(19) – Palas, deusa da sabedoria. Defendeu Júpiter contra os gigantes.

(20) – Neotetes, isto é, a juventude.

(21) – Erva excelente contra o veneno.

(22) – Mete, a embriaguez.

(23) – Apedia, a Imperícia. Segundo a lenda, Pã é grosseiro e material.

(24) – Escudo de Júpiter, feito com a pele da cabra Amaltéia, que o amamentou.

(25) – Lucrécio reconheceu em Vênus o princípio de toda a geração.

(26) – Alusão a uma passagem de Sófocles: Filoxeno assoa o nariz dentro de um apetitoso manjar, para os outros ficarem com nojo e ele comê-lo sozinho.

(27) – Para Acarnânia, cidade não muito distante de Siracusa, na Sicília, iam os porcos de raça mais apurada.

(28) – Atribuíam-se a Baco dois nascimentos: um, materno; outro, da coxa de Júpiter.

(29) – Momo, filho do Sono e da Noite; deus ocioso, que censura os outros deuses.

(30) – Ates, a Discórdia.

(31) – Diz Homero que Vulcano serve a mesa nos banquetes, faz os deuses rirem com o seu andar claudicante, serve o néctar a sua mãe e diz coisas engraçadas para reconciliá-la com Júpiter, seu pai.

(32) – Cantar com um ramo de murta na mão era um costume dos antigos: o primeiro a cantar pegava um ramo de murta e, ao terminar, entregava-o ao vizinho, que fazia o mesmo, e assim até ao último convidado.

(33) – Costumava-se pintar Vênus com os olhos um pouco estrábicos, para despertar o amor e o desejo, e porque o estrabismo de certas mulheres não passa de pura afetação.

(34) – Segundo Homero, Nereu era o mais belo dentre os que assediavam Tróia, e Tersites o mais disforme — Faão foi rejuvenescido por Vênus, o que fez Safo apaixonar-se perdidamente por ele. — Nestor viveu três séculos.

(35) – Provérbio de Teócrito, inspirado pela resposta do Oráculo, segundo a qual os megareses eram incontáveis.

(36) – Diz Aristóteles que a efervescência e a densidade do sangue é que produzem a força, a audácia e a estupidez dos homens; ao contrário, a sutileza e a frieza produzem a fraqueza, a pusilanimidade e o talento.

(37) – Os espartanos baniram Arquíloco, por ele se gabar, convencido do seu “mérito”, de ter abandonado o escudo para fugir mais depressa.

(38) – Catão, o Censor, acusado quarenta vezes, foi sempre absolvido. Apesar disso, foi o autor de mais de setenta condenações. — Catão de Útica, foi obstinado opositor de César.

(39) – Bruto e Cássio foram chamados “os últimos romanos”. Depois de matarem César, foram vencidos e se suicidaram. — Tibério e Caio Graco, ambos eloqüentes, ambos sediciosos, acabaram morrendo num conflito. — Cícero combateu Marco Antônio e Demóstenes adversou Filipe.

(40) – Cícero levou Antônio a destruir a república romana, e Demóstenes os atenienses a fazer a guerra contra Filipe, com funestos resultados.

(41) – Estando Catão presente aos jogos floreais, não quiseram os atores iniciá-los, porque as mulheres dançavam nuas e os homens formavam grupos lascivos. Exigiram-lhe, então, que deixasse o seu ar de gravidade ou se retirasse. Catão tomou o último partido.

(42) – Escandalizado com os costumes dos seus concidadãos, esse filósofo se retirou para um deserto, rompendo toda a ligação com os homens.

(43) – Segundo a lenda, quando Anfião cantava, as pedras se transformavam em muralha. — Com sua cítara, Orfeu fazia correrem atrás de si as pedras, as plantas e os animais.

(44) – Achando-se o povo romano cheio de dívidas e oprimido pela crueldade dos patrícios, os plebeus fugiram de Roma e foram acampar no Monte Sacro. O Senado enviou-lhes, então, Menênio Agripa, que, como orador, devia induzi-los a voltar. Menênio conseguiu-o com o seguinte apólogo: “Os membros — disse ele — insurgiram-se, uma vez, contra o estômago, acusando-o de explorar o seu trabalho, sem nada fazer para eles. Em seguida, recusaram-se a lhe prestar o habitual auxílio. E logo caíram numa fraqueza mortal, reconhecendo então o seu erro”.

(45) – Estando o povo ateniense indignado com a avareza dos magistrados, Temístocles contou que uma raposa picada pelas moscas agradeceu ao ouriço que se ofereceu para coçá-la, dizendo-lhe que o remédio seria pior do que o mal.

(46) – Plutarco, na vida de Sertório, conta que esse general enganou os espanhóis declarando-lhes que Diana lhe dera de presente uma corça muito bonita que lhe revelava todas as coisas. — O mesmo Sertório, na guerra contra Pompeu, quis mostrar a um bando de bárbaros que vale mais o engenho do que a força. Mandou vir dois cavalos, um velho e muito magro, e o outro fogoso; depois, mandou que um homem robusto arrancasse a cauda do primeiro, mas o homem, por mais força que empregasse, não o conseguiu. Então, mandou que um homem fraco arrancasse fio por fio, a cauda do cavalo fogoso. E num instante a ordem foi executada.

(47) – Licurgo, para mostrar aos lacedemônios a força da educação, pegou dois cães da mesma raça, um muito habituado a caçar e o outro amansado em casa. Em seguida, tendo posto diante de ambos uma panela cheia de comida e deixado em liberdade uma lebre, o primeiro saiu em perseguição da lebre e o segundo dirigiu-se para a panela.

(48) – Minos, rei de Creta, a fim de tornar mais venerada sua autoridade, fez espalhar que, de nove em nove anos, Júpiter, seu pai, lhe indicava as leis que devia criar para o povo. Numa, também, inventou que tinha conferências noturnas com a deusa Egéria, que lhe aconselhava a instituição dos sacrifícios e das leis.

(49) – São máximas de Sócrates: É melhor sofrer uma injúria do que fazê-la; a morte não é um mal; a filosofia consiste em meditar na morte, etc.

(50) – Surgiu uma voragem no Foro de Roma e, consultado o oráculo, este respondeu que a mesma só se fecharia se se jogasse dentro dela tudo quanto o povo romano tinha de mais precioso. Cúrcio precipitou-se, então, no abismo, com suas armas e seu cavalo, certo de que o povo romano nada possuía de mais precioso que as suas armas e a sua bravura.

(51) – Os romanos costumavam divinizar os imperadores defuntos enchendo de palha e de perfumes uma alta torre, à qual ficava presa uma águia; esta, libertada pelas chamas, levantava vôo, enquanto um perfume suavíssimo se desprendia do braseiro. O povo acreditava que se tratasse da alma do príncipe subindo aos céus.

(52) – Os Silenos de Alcebíades eram velhos Sátiros. Chamavam-se Silenos porque se balançavam em torno da encomenda. Também se chamavam assim os que espremiam as uvas. Conhecido por esse nome foi o preceptor de Baco. Chamavam-se ainda Silenos certas estátuas ridículas exteriormente, mas que internamente encerravam imagens divinas. Alcebíades, espirituosamente, comparava Sócrates a essas estátuas, por ser ele deselegante e grosseiro exteriormene, mas encerrando uma alma divina.

(53) – “Vosso Deus e Senhor”, eram títulos que se atribuía o imperador Domiciano. — Marcial diz não haver animal pior do que um príncipe perverso. — Tendo Diógenes subido, certa vez, a uma tribuna, e como para arengar repetisse: “Homens, escutai!”, logo uma grande multidão se formou em torno de sua pessoa, perguntando-lhe todos o que queria. E ele respondeu: “Dirigí-me ao homens, e não a vós, que de humano só tendes a figura”.

(54) – O sentido moral desse provérbio dos gregos é que é necessário adaptar-se às pessoas com as quais se convive, ou então separar-se delas. Também Cícero disse, no mesmo sentido: “Se vives em Roma, vive de acordo com os costumes romanos”.

(55) – Esse filósofo escreveu o plano de uma república, mas ninguém quis adotá-lo. Luciano ridiculariza-o por esse fato, dizendo: “Platão é o único habitante de sua cidade”.

(56) – “Nos Jardins de Tântalo”: serviam-se os gregos desse provérbio para significar um lugar inexistente.

(57) – Conta Aulo Gélio que as virgens de Mileto foram tomadas, certa vez, de um furioso amor que as levou ao suicídio.

(58) – Quirão, preceptor de Aquiles, recusou a imortalidade que lhe ofereceram os deuses como prêmio por sua probidade, a fim de evitar o tédio que sentiria com a reprodução contínua das mesmas coisas.

(59) – Diz a lenda que Prometeu fez o corpo humano com argila e o animou com o fogo roubado do céu.

(60) – Faão foi loucamente amado por Safo, que por ele não era correspondida.

(61) – A respeito de Teuto, diz Sócrates a Platão: “Ouvi dizer que, perto de Neucrates, no Egito, houve um dos primeiros deuses a quem era consagrado o pássaro chamado Íbis. Esse demônio ou deus chamava Teuto e foi o inventor dos números, da geometria, da astrologia, dos jogos de azar, do alfabeto. Tamus reinava, naquele tempo, sobre todc o Egito e residia numa poderosa cidade que os gregos chamavam de Tebas do Egito. Ora, tendo ido Teuto procurar esse monarca, a fim de lhe mostrar as suas invenções, disse-lhe este que era preciso comunicá-lo aos egípcios”.

(62) – Segundo Platão. Na mesma passagem acima citada, lê-se que, tendo o rei Tamus perguntado a Teuto qual era a vantagem de suas letras alfabéticas, este último respondeu: “Servem para despertar a memória”. Ao que replicou o rei: “Pois a mim me parece justamente o contrário, porque os homens, servindo-se desses caracteres, porão tudo no papel e não conservarão nada na memória”.

(63) – Os gregos davam aos sábios o nome de demônios, por causa de uma antiga palavra que significa sei, aprendo e da qual pensam os gramáticos se derive o nome de demônio.

(64) – Diz Tácito que a quantidade das leis é a prova de um mau governo e da decadência de uma nação, porque são os maus costumes que colocam os homens na contingência de fazer leis.

(65) – Atribui-se aos caldeus a invenção da astrologia e da magia. Erasmo trata-os de supersticiosos por acreditarem eles que todas as estrelas fossem divindades.

(66) – Alusão ao seguinte apólogo de Aniano: “No máximo rigor do inverno, um camponês recebeu um sátiro em sua cabana. Ao ver que o camponês soprava os dedos, perguntou-lhe o sátiro: “Porque faz assim?” Ao que o outro respondeu: “Para me esquentar com o calor do bafo”. Mais tarde, posta a mesa, vendo o sátiro que o camponês soprava uma comida muito quente, perguntou-lhe porque fazia o mesmo com a comida. Ao que respondeu o camponês: “Para esfriá-la”. Então, o sátiro levantou-se subitamente e lhe disse: “Como?! Pela mesma boca, você põe para fora o calor e o frio? Ah, não quero negócio com essa gente!” E, assim dizendo, saiu a correr.

(67) – Alguns autores antigos chamam os estóicos de rãs, por causa da sua importuna loquacidade.

(68) – Segundo Pausânias, havia duas Vênus: uma, mais antiga, sem mãe e filha do céu, por isso chamada celeste; a outra, filha de Júpiter e Diona, chamada a Vênus comum. E, assim, distingue ele o amor vulgar do amor celeste.
[Vênus é o nome latino para Afrodite - NE]

(69) – Tendo Âtico censurado Cícero pelo fato de se afligir excessivamente com a tirania dos triúnviros, dando a muitos a impressão de que perdera o juizo, Cícero respondeu que ainda conservava a lucidez, mas que desejava ficar louco para não ser mais tão sensível às calamidades públicas.

(70) – Creso, rei da Lídia, foi o homem mais rico da terra. Tendo um dia perguntado a Solon se não era ele o mais feliz dos mortais, o filósofo respondeu-lhe: “Majestade, vós me pareceis muito rico, tendes um grande reino; reservo-me, porém, para responder à vossa pergunta quando fordes muito feliz”.

(71) – O promontório de Maléia, na Lacônia, província do Peloponeso, era tão perigoso que se costumava dizer: “Quando navegares diante de Maléia, esquece de todo a tua casa”.

(72) – Alusão ao fato de São Cristóvão ser pintado como um gigante com uma planta na mão e metido no meio de um rio até às nádegas, justamente como Virgílio descreve Polifemo na Eneida, livro V.

(73) – Os marinheiros invocam São Cristóvão, os soldados Santa Bárbara e os avarentos Santo Erasmo.

(74) – Hipólito despedaçado pelos cavalos. Tornou-se célebre pela resistência oferecida ao amor pecaminoso de Fedra, sua madrastra.

(75) – Conta-se que o diabo, encontrando um dia São Bernardo, gabou-se de saber sete versículos dos salmos que, recitados diariamente, levariam na certa ao paraíso. O santo teve curiosidade de saber quais eram os versículos, mas o diabo não quis revelá-los. “Zombarei de ti, — disse-lhe então o santo, — pois vou recitar diariamente o Saltério, de forma que assim recitarei também os sete versículos”. E o diabo, com receio de se tornar causa de tão grande devoção, acabou revelando o segredo.

(76) – Narciso, filho do rio Cefiso e de Leríope, foi um jovem de grande beleza que, vaidoso de si mesmo, se amou com tanto transporte que acabou morrendo de fraqueza.

(77) – Dizia Platão que eram leigos e sonhadores os que menosprezavam as idéias divinas e as coisas espirituais com o fim de se entregarem totalmente aos prazeres do corpo. “Esses homens — disse o filósofo — são escravos de si mesmos e têm por domicílio uma caverna”.

(78) – Segundo Luciano, não passava Micilo de um pobre remendão. Tendo este, certa vez, ceado admiravelmente em casa de um vizinho abastado sonhou que tinha ficado rico e, depois, carregado às costas, ia gozar todos os seus bens da opulência. Como, porém, um galo o despertasse com seu canto, ele teve tal decepção e ficou tão furioso que pouco faltou para matar o importuno cantor.

(79) – Falaris, como vimos na nota 13, era um tirano crudelíssimo de Agrigento. — Dionísio, famoso tirano de Siracusa, foi expulso do reino por seus próprios súditos, em virtude das grandes crueldades que cometera. Ao chegar a Corinto, a fim do exercer o mister de mestre-escola, disse: “Também isto é reinar”.

(80) – Palêmones e Donato, dois famosos gramáticos.

(81) – Plagiários eram os que roubavam as crianças e os escravos. A palavra tem, hoje, um sentido análogo, referindo-se aos que roubam idéias alheias.

(82) – Alceu de Mitilene, um dos maiores poetas líricos da antigüidade. Inimigo fidalgal de Pitaco, de Periandro e de outros tiranos. Autor dos versos alcaicos.

(83) – Calímaco, célebre poeta grego, nascido em Cirene. Segundo Quintiliano, era ele considerado, entre os gregos, como príncipe dos poetas elegíacos. Catulo imitou-o. Afirmava Calímaco que um grande livro é um grande mal.

(84) – Sísifo, segundo os poetas, foi condenado a fazer rolar uma enorme pedra, sem parar, até ao cume de uma montanha. Mal, porém, chegava ao termo do seu trabalho, a pedra rolava para baixo.

(85) – No templo de Dodona, havia um lugar dedicado a Júpiter, no qual se achavam vários vasos dispostos de maneira tal que, ao se bater no primeiro, o som se propagava até ao último, produzindo um barulho insuportável.

(86) – Diz Homero que Estentor tinha uma voz tão forte que eqüivalia à de cinqüenta pessoas falando ao mesmo tempo.

(87) – Crisipo foi discípulo de Cleanto, sucedendo-lhe como orientador da escola dos estóicos.

(88) – Segundo Homero, Penélope desmanchava à noite o pano tecido de dia, a fim de frustar as esperanças dos Proces na ausência de Ulisses. Penélope prometera aos Proces que se casaria logo que o pano estivesse terminado.

(89) – Belo, dragão da Babilônia, cuja história, segundo se supõe, foi introduzida nos escritos de Daniel por um certo Teodósio. Com efeito, o texto hebraico não faz a respeito nenhuma referência.

(90) – Níobe, irmã de Penélope e mulher de Anfião, rei dos Tebas. Orgulhosa de sua fecundidade, pois tinha sete filhos homens e outras tantas mulheres, considerou-se superior a Latona por ter somente dois: Apolo e Diana. Em virtude desse fato, Apolo e Diana mataram com suas setas todos os filhos de Níobe, os quais ficaram nove dias insepultos no próprio sangue. A dor de Níobe foi tão profunda que ela se transformou num rochedo.

(91) – Conta Horácio que, tendo Príapo assistido, uma vez, às cerimônias noturnas de Canídia e de Ságana, que invocavam as Fúrias e as Sombras num jardim, teve tal surpresa que deixou escapar um formidável peido. As duas bruxas, assustando-se com o barulho, interromperam a feitiçaria e saíram a correr a toda pressa.

(92) – Os Feácios, segundo Homero, eram tão estúpidos e materiais que Ulisses conseguia deles tudo o que queria.

(93) – Homero descreve os amantes de Penélope como homens que só se preocupavam com os prazeres do amor e que, depois de comer e beber à grande, só pensavam em cantar e em dançar.

(94) – Antigamente, todos os bispos se chamavam papas.
[O papa é o bispo de Roma - NE]

(95) – De que fala São Paulo na epístola aos romanos, cap. XVI.

(96) – Em Roma, costumava-se expor ao povo o retrato do excomungado pintado num pano e representado da forma seguinte: sentado, com uma cara satânica, tendo um demônio de cada lado, os quais lhe punham na cabeça uma coroa de fogo, enquanto outro demônio o segurava pela túnica e lhe queimava os pés.

(97) – Trata-se, muito provavelmente, de uma alusão a Júlio II, papa cujo fanatismo guerreiro tantos males causou à humanidade.

(98) – Erasmo refere-se às anotações por ele feitas ao Novo Testamento e à obra de São Jerônimo, consideradas muito úteis ao estudo das escrituras.

(99) – Três línguas, isto é, o hebraico, o latim e o grego.

(100) – “Burro para a lira”, provérbio que exprime o mesmo que “boi para o palácio”, quando se olha uma coisa sem saber o que significa.

(101) – Quando lhe avisaram que tomasse cuidado com Antônio, César respondeu: “Não temo os gordos e os glutões, mas os sóbrios e os pálidos”. Referia-se a Bruto e Cássio, que de fato o apunhalaram em pleno Senado.

(102) – Nero mandou cortar as veias de Sêneca, por ter esse filósofo, quando seu preceptor, censurado as suas infames ações.

(103) – Tendo ido expressamente à Sicília. para tentar melhorar, pelo estudo da filosofia, os sentimentos do feroz Dionísio, tirano da ilha, Platão passou pelo desgosto de ver fracassar inteiramente o seu propósito.