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sexta-feira, julho 07, 2006

GÓRGIAS - Platão - Parte 01 - Apresentação da Obra

Górgias de Platão

O título deste diálogo de Platão faz referência a Górgias, sofista grego (487-380 A.C.), mestre de Tucídides, e que é aliás um dos intervenientes. Nesta obra, a doutrina de Sócrates sobre a retórica é confrontada com a dos sofistas. Górgias é uma obra plena de atualidade. A problemática que equaciona e resolve é a que mais fundamentalmente preocupa os homens dos nossos dias. A questão da “retórica”, tema central do diálogo, é, na realidade, um complexo de questões: princípios de atuação dos homens de Estado, natureza e função da propaganda política, crise dos valores tradicionais, ideal de realização humana. “Retórica” para os Gregos dos tempos de Platão era muito mais do que o uso imoderado da palavra para fins de aliciamento, extravagância ou auto-afirmação. Era uma atividade que se pode classificar de “política” no mais amplo sentido, porque abrangia a preparação técnica, cultural e humana daqueles cidadãos que quisessem dedicar-se à causa pública.
Esta obra nos fala, inicialmente, do papel da Retórica, qual a sua função e como esta deve ser usada, contrapondo o seu uso habitual - o dos sofistas (representados por Górgias, Polo e Cálicles) - com uma nova visão - a do filósofo Sócrates - que conclui que esta é não só inútil, mas mesmo imoral.
Iniciando um debate com Górgias, Sócrates induz o seu oponente em contradição, levando-o a dizer que a Retórica, a arte dos discursos políticos que tem como objeto a justiça, pode ser usada de forma errada e, ao mesmo tempo, que todos aqueles que a aprendem são incapazes de cometer qualquer ato injusto.
Perante esta contradição, surge Polo, discípulo de Górgias, que defende o seu mestre e a sua Arte, afirmando que esta é a mais bela das artes. Sócrates apresenta, então, a sua Teoria da Adulação:
- existem artes para o Corpo e para a Alma;
- para cada arte existe um saber empírico que se faz passar pela Arte, sem ter um verdadeiro conhecimento do seu objeto;
- as Artes do Corpo são: a Ginástica e a Medicina;
- a Arte da Alma é a Política, que pode dividir-se em Legislação e Justiça;
- as falsas Artes do Corpo são: a Cosmética e a Culinária;
- as falsas Artes da Alma são: a Sofística e a Retórica.


Perante esta afirmação, Polo inicia um discurso argumentando que a Retórica dá poder áqueles que a dominam, ao que Sócrates contrapões com o aparente paradoxo de que os que têm mais poder não são os mais poderosos. Após uma longa discussão, Sócrates obriga Polo a admitir que cometer uma injustiça é mau, e, caso a tenha cometido, o sujeito deve preferir ser castigado a fugir ileso.
Cálicles, o anfitrião, toma então a palavra, afirmando que Sócrates está errado e criticando a sua forma de debater. Afirma que não existem semelhanças entre as Leis da Natureza e as Leis da Convenção. Seguem-se quatro definições de mais poderoso da parte do sofista:
-O Mais Poderoso é o Mais Forte - Cálicles faz esta afirmação defendendo a superioridade inata e física. Sócrates então, através da sua ironia, leva-o a admitir que muitos fracos são mais fortes do que um forte; assim, as leis por Convenção assemelham-se À Lei Natural, o que demonstra que Cálicles estava errado na sua crítica anterior;
- O Mais Poderoso é o Mais Inteligente - Tentando fugir à derrota anterior, Cálicles finge-se ofendido e reformula a sua definição. Agora os melhores são os mais inteligentes. Perante tal afirmação, Sócrates contra-argumenta com consequências ridículas, ao dizer que, assim, um sapateiro, por ser mais sábio a fazer sapatos, deveria calçar os sapatos maiores...;
- O Mais Poderosos é o Mais Inteligente na Política e Mais Corajoso - Irritado com a resposta jocosa de Sócrates, Cálicles propõe esta nova definição, dizendo que os melhores são
...aqueles que têm a ciência dos negócios públicos e da boa administração do
Estado e que não são só entendidos em tais matérias, mas também
corajosos, porque são capazes de realizar os seus projectos, sem jamais
desistirem por fraqueza de alma
e que
a justiça manda que tenham mais do que os outros.
Perante esta última definição de Cálicles, Sócrates leva a discussão a outro ponto, ao perguntar se estes mais poderosos só governam os outros ou se também se auto-governam, isto é, se têm autodomínio e temperança. Cálicles ri-se desta ideia de temperante, chamando-lhe, pelo contrário, de imbecil. Este diz então que os mais hábeis são os que têm mais paixões e as satisfazem. Começa assim uma nova discussão: qual a melhor forma de viver: a do Hedonismo ou a da Temperança?
Sócrates conta então uma lenda sobre um crivo furado, que diz representar o homem que quer satisfazer os seus desejos. Como não consegue convencê-lo, recorre a história dos tonéis.